Simplesmente o jeito
Roberto Fernandes de ser
Por: Ana Campos, Repórter NauticoNET
- Foto: Arquivo
Confira a entrevista feita
pela repórter Ana Campos da Equipe NauticoNET
com o técnico Roberto Fernandes.
Há 11 anos trabalhando como treinador
de futebol, Roberto Fernandes, hoje, comanda o
Clube Náutico Capibaribe, instituição
esta que lhe apresentou para o esporte e que ele
pretende fazer um bom trabalho. A equipe NauticoNET
fez uma entrevista exclusiva com o técnico
timbu, que conta para o torcedor sua vida, dentro,
e fora dos gramados.
Desde pequeno gostava de futebol, de jogar e torcer.
Sempre que podia, ia aos estádios e escolheu
o Náutico para ser seu time por três
motivos: pela madrinha ser alvirrubra, pelos amigos
da escola serem, na maioria, torcedores do Náutico
e por um jogo em especial que assistiu do Timbu
que marcou sua vida: uma golada de 4x0 no Sport,
na Ilha do Retiro, onde todas as luzes se apagaram,
ainda no primeiro tempo.
Roberto, como a maioria
dos meninos, sonhava em ser jogador de futebol,
o que não se efetivou. Quando decidiu trabalhar
mesmo com o esporte, aos 25 anos, resolveu então
ser treinador de futebol, já que a idade
estava avançada para iniciar uma carreira
de jogador. Arrumou as malas e decidiu deixar
Pernambuco e se especializar em São Paulo.
"Até hoje quando tenho partidas importantes,
sonho comigo entrando em campo e jogando futebol.
Nunca no lado de fora, comandando." Diferente
de muitos, Roberto estudou, fez cursos e até
hoje procura se aperfeiçoar no que faz.
Passou por vários clubes e comandou equipes
fortes. Seu trabalho foi focado mais em três
estados: São Paulo, Goiás e Paraná.
Em São Paulo, ele desenvolveu o lado teórico
e analisou o trabalho de grandes profissionais.
"Um dia antes dos jogos, trabalhava minha
equipe pela manhã e a tarde deixava ela
com o preparador físico e ia assistir os
treinos táticos do São Paulo, Palmeiras."
Por Roberto não
ter sido um jogador profissional, ele afirma que
desenvolveu um lado ainda mais forte. "Enxergo
muito além. Trabalho de forma minuciosa
na observação de atletas de futebol.
Tenho um banco de dados que poucos treinadores
possuem no país. E se tratando de jogadores
pouco conhecidos, só conheço o Paulo
Comelli que também faz este tipo de acompanhamento."
O técnico timbu têm livros, arquivos
de vídeo e muitas anotações.
"Sempre trabalhei só. Nunca tive empresário.
Cheguei nos clubes que passei através de
um trabalho bem feito nos anteriores."
Hoje, comandando o Alvirrubro,
Roberto conta que esta estória de torcedor
só aflorou aqui, por conta do seu passado.
"Em São Paulo, me viam como um profissional
capacitado. Mas não existe diferença
em trabalhar no Náutico ou em outro clube.
Tem um sabor especial, por retornar ao meu Estado,
por ter amigos no clube e um carinho grande por
ele." Fora isso, Roberto confirma que o trabalho
tem que ser encarado com frieza, até por
que "garanto que a intolerância do
torcedor alvirrubro não será diferente,
caso os resultados não apareçam,
por que um dia torci pelo Náutico. Mas
o prazer é muito grande de hoje está
aqui. Não era um objetivo, até por
que todas as minhas oportunidades significativas
foram fora de Recife." Roberto chegou em
recife com sua carreira já consolidada.
"Passei por clubes com grandes torcidas -
como Vila Nova e Ceará e disputei três
vezes o segundo melhor campeonato do país,
o Paulista. Mas estou orgulhoso de comandar o
Náutico."
Sua profissão, dedicação,
força de vontade e competência, puderam
ser confirmadas nesta conversa.
Roberto Fernandes fala sobre:
· Carreira de
Treinador
' Um treinador não
se faz apenas de títulos, mas de conquistas
também. Eu tenho apenas um título,
mas conquistei vários acessos importantes.
A chance do Náutico ser campeão
brasileiro é quase zero, mas se eu conseguir
uma classificação para a Sul Americana,
é uma grande conquista. Em São Paulo,
os clubes avaliam o trabalho que você realizou,
de maneira mais fria. Eles valorizam mais os resultados,
e não só títulos."
· Estrutura do
Náutico
"A estrutura do clube
me surpreendeu e decepcionou ao mesmo tempo. Surpreendeu
pelo Náutico possuir um gigante adormecido
- O centro de treinamento- algo tão grande.
E me decepcionou por ele estar desacordado. O
espaço físico é muito bom.
O primeiro passo já foi dado, agora a próxima
direção do clube tem que priorizar
o CT e fazer ele funcionar de verdade, procurar
parcerias e injetar dinheiro. Digo ao torcedor,
já conheci vários CTs, o do São
Paulo, Palmeiras, Atlético/PR, Internacional,
Coritiba e posso garantir que nenhum possuí
a área que o Náutico tem. O CT hoje
é composto de três campos, mas apenas
um pronto e não ideal, por ser duro demais
para treinos. O clube tem que entender que um
investimento feito lá, tem retorno. Se
o Náutico vender só um atleta, já
paga este custo. O clube tem que priorizar duas
coisas atualmente: a permanência na primeira
divisão e o CT, até mais do que
um título estadual."
· Roberto: 11
anos depois...
"Mudei muito, e como.
Você adquire experiência e vai estudando
e aprendendo cada vez mais. Aprendi que o jogador
de futebol tem que ter ambição.
E isso que cobro no elenco do Náutico,
mais ambição de vencer. Não
podemos ter medo de crescer."
· Trabalho com
os jogadores
"Para mim, se resume em respeito, honestidade
e parceria. A honestidade de você olhar
no olho do teu jogador e conversar com ele. Respeito,
pois trabalho com o comando e não com o
poder. Não sou autoritário, através
da honestidade e do diálogo, o trabalho
fica mais fácil; e parceria, que é
fundamental. É ter conversas com o elenco,
sentir os jogadores."
Elenco: honestidade, respeito e parceria.
· Roberto palestrante
e psicólogo?
"Hoje sou membro da
Associação Brasileira de Treinadores
- ABT e ministro palestras para técnicos
que estão começando. Acho que o
treinador também tem que ter este lado
psicólogo. Quando cheguei no Náutico,
o elenco estava com este lado abalado. Conversei
com os atletas e estamos conseguindo reverter
isso.
· A preleção
do Roberto Fernandes
"Converso tudo que
foi treinado, abordo os fatores importantes do
jogo - clima, condição de gramado,
adversário e circunstâncias. Nada
de novo em questão tática. Lembro
jogadas ensaiadas e encerro com algo que estimule
os atletas. Quero meus jogadores saindo da sala
com vontade de vencer, de correr feito um tigre.
Só não aceito que o grupo não
se dê ao máximo. Quero que eles voltem
para o vestiário com a certeza de que fizeram
o máximo, se não, o bicho pega."
· O elenco do
Náutico
"Estou formando durante
a competição. Sabemos das nossas
limitações e cada atleta têm
consciência disso. Por isso, temos que superar
estes limites, e ai que entra a ambição.
Precisamos produzir mais. Reforços ainda
vão chegar. Mas quero que o torcedor entenda
que não posso fazer milagre."
· Futuro....
"Após realizar meu trabalho aqui no
Náutico pretendo voltar para São
Paulo para um time de ponta, que possa me dar
visibilidade e estrutura para chegar no meu objetivo
principal hoje, treinar um time da Europa, que
tenha um campeonato bem disputado. E muito futuramente,
claro, a Seleção Brasileira. Todo
treinador sonha em chegar lá. Mas isso
penso daqui há 15 anos, mais o menos. Nosso
futebol é muito desigual. A estrutura,
trabalho, patrocínio, organização,
administrativo, dinheiro, tudo é muito
diferente. Uma boa condição de trabalho
te faz dar a oportunidade de chegar mais rápido
no sucesso. E meu objetivo é dá
uma seqüência de trabalho boa, para
que eu possa ser um vencedor."
· Roberto, fora
do futebol...
"Se não estou
trabalhando esqueço futebol. Odeio ver
jogo que não me interesse. Faz tempo que
não assisto uma partida da seleção...nem
me lembro qual foi a última. Futebol como
torcedor, jamais, esqueça - risos. Se não
estiver trabalhando e chegarem para mim para conversar
sobre futebol, vou embora.
Gosto de uma boa praia, de tranqüilidade.
Sou muito tranqüilo. Ver o pôr do sol,
o nascer dele. Mas nada de muito movimento. Até
que gostava de viajar, mas a profissão
já me deixou enjoado e até por que
também, tenho pavor de avião.
· Recado para
o torcedor alvirrubro
"Acredite. Acredite
e apóie. Este campeonato que o Náutico
está disputando, o mais difícil
e nos mantermos nele. Este Brasileiro é
o mais complicado de todos os outros 11 que o
Náutico disputou na Série B. O índice
de equipes que sobem em um ano e no outro caem
é grande. Mesmo com nossas limitações
e dificuldades, não abandone o time. Este
é o momento de união. Compareça
aos jogos, apóie e torça até
o final. Depois, se as coisas não derem
certo, proteste, mas apenas quando o jogo acabar.
Durante o jogo complica. A intolerância
é sem dúvida a principal arma do
aliado quando ele joga fora de casa. E nosso grupo
ainda não está equilibrado da forma
que eu quero. Então, paciência é
o que eu peço.
A equipe NauticoNET agradece
pela paciência e boa vontade do treinador
alvirrubro em nos conceder esta entrevista. Torcemos
por você, Roberto! E parabéns pelo
seu trabalho!
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