Didi: O novo comandante
Alvirrubro
Por: Alexandre Arditti, Folha PE- Foto:
Andréa Rêgo
Com estilo “paizão”,
daqueles adeptos a uma boa conversa, Didi
Duarte, 54 anos, chega ao comando do time
principal do Náutico, após um
ano e meio se dedicando à coordenadoria
das divisões de base do clube. Profissionalmente,
esta será a quarta equipe dirigida
por este gaúcho “boa praça”,
que fixou residência em Natal, no Rio
Grande do Norte, há 24 anos, onde tem
uma agência de turismo. Casado, Didi
tem dois filhos e três netos. Ao falar
da família, emociona-se a lembrar do
filho, morto em um acidente de carro há
três anos. Como jogador, atuou no meio-campo.
Durante a carreira, passou por nove times,
inclusive Náutico e Sport. Mas foi
a passagem pelos Aflitos que lhe marcou. “Tenho
um carinho especial pelo Náutico”,
diz. Como atleta, não conquistou títulos
com a camisa alvirrubra. Agora, tem uma nova
chance para marcar seu nome na história
do clube.
O senhor considera
essa a grande chance de sua carreira como
treinador profissional?
Sim, é a chance
de recomeçar no futebol profissional
e o mercado pernambucano logicamente me dará
mais visibilidade no cenário nacional.
Mas é bom deixar claro que ninguém
está me fazendo um favor, porque eu
conquistei este espaço trabalhando.
Tenho muitos serviços prestados ao
Náutico.
Se não
der certo no Náutico, o senhor garantiu
que largaria o futebol profissional para se
dedicar exclusivamente às divisões
de base. Não há exagero nessa
afirmação?
Confesso que exagerei.
Talvez eu tenha sido um pouco drástico
comigo mesmo. Mas não consigo imaginar
que meu trabalho possa dar errado no Náutico.
O clube me dá boas perspectivas. Independente
do que os outros acharem, farei minha avaliação
e levarei apenas ela em consideração.
Mas no momento, não é hora de
estar pensando no lado negativo das coisas.
O senhor acreditava
que poderia ter sido efetivado no comando
técnico da equipe profissional do Náutico?
Quando fui contratado,
havia um “zum-zum-zum” de que
eu tinha aceito o convite do Náutico
pela possibilidade de chegar mais rápido
ao comando técnico profissional. Mas
não pensava dessa forma. Tanto que
houve chances de assumir o time antes, mas
não achei que fosse o momento certo.
Cheguei nos Aflitos para fazer um trabalho
sério nas divisões de base.
Explanei meu desejo em mudar parte da estrutura
do futebol amador e me dediquei a isso. Gosto
de dar início aos trabalhos, com estrutura
e bem planejado, como será feito agora
com o departamento de futebol profissional.
O fato de seu
trabalho já ser conhecido no clube
lhe dá maior respaldo?
Sem dúvida existirá
uma maior confiança no meu trabalho,
principalmente no início da temporada.
Neste caso, não estou me refirindo
aos torcedores que querem resultados imediatos,
mas àqueles que vivenciam o dia-a-dia
nos Aflitos. Vale lembrar, que terei menos
de vinte dias para montar o time que estréia
no Campeonato Pernambucano. É quase
impossível pedir por espetáculo
no início da temporada.
A comissão
técnica foi uma escolha sua ou da diretoria?
Quando chego a um clube
não gosto de trocar totalmente a comissão
técnica porque sei que estes profissionais
tem qualidade. Agora, na hora que precisar
fazer alterações, farei. Inicialmente,
procurei trazer apenas uma pessoa que pudesse
me auxiliar na questão defensiva. Eu
tinha duas opções para esta
função: Sérgio China,
que preferi deixar coordenando as divisões
de base para dar continuidade ao trabalho
que vínhamos desenvolvendo, e João
Marcelo, que já foi contratado.
Em relação
aos reforços, quem participa da escolha
dos contratados?
As contratações
são fruto de um consenso entre departamento
técnico e diretoria. Mas todos os reforços
passaram e passarão pelo meu aval.
Não pode ser diferente.
A política
do clube de redução da folha
salarial é um obstáculo na hora
das contratações?
Pode ser, mas não
podemos considerar isso um demérito
do Náutico. Investiram tudo para subir
à Série A nos últimos
dois anos e não conseguiram, agora
os reflexos são negativos no aspecto
financeiro. Mas não posso me envolver,
tenho que ficar alheio a estes problemas e
pensar na formação de um time
forte.
E há
como se fazer um time forte sem dinheiro?
Com planejamento, acredito
que sim. Mas não será fácil.
Qual o perfil
de jogadores que o senhor pretende trabalhar?
Gosto de jogadores
voluntariosos e versáteis. Quero no
Náutico atletas que ora sejam “arquitetos”,
ora “operários”.
O senhor é
conhecido por trabalhar o lado emocional dos
atletas. Neste âmbito, o que é
preciso fazer pelo elenco profissional do
Náutico?
Quero fazer com que
os jogadores resgatem o amor por jogar futebol.Não
quero ninguém entrando em campo obrigado,
apenas porque ganha salário. Tristeza
e má vontade vão ficar fora
das quatro linhas. É preciso trazer
felicidade para o elenco do Náutico.
Assim se comportam os grupos campeões.
O senhor gosta
de centralizar o trabalho técnico dentro
do clube. Como será a relação
com a diretoria?
Podem chegar para conversar,
para dar opinião. Respeitarei todos,
mas jogo bola desde os 13 anos, conheço
muito bem de futebol e não aceitarei
interferências. Se alguém quiser
apontar o que devo fazer, vai ter que assumir
o time no meu lugar. Não cederei às
pressões externas.
Pelo fato do
senhor vir das divisões de base, pode-se
esperar que os pratas da casa tenham mais
espaço no clube na próxima temporada?
Poderão ter,
mas não como aconteceu no início
deste ano, quando dois ou três entravam
no time ao mesmo tempo. Isso é uma
a falta de compromisso com o trabalho amador
e que pode “queimar” jovens atletas.
Vamos mesclar paulatinamente jogadores das
divisões de base na equipe profissional,
tudo com muita responsabilidade.
O que o torcedor
do Náutico pode esperar do técnico
Didi Duarte?
Não vou fazer
aquelas promessas de sempre. O torcedor vai
ver, basta que me dê tempo para desenvolver
meu trabalho.
O senhor já
está pedindo paciência ao torcedor?
Não, de forma
nenhuma. Até porque não adianta.
Mas eles vão entender que o trabalho
será feito de forma séria e
com qualidade e, por isso, vão nos
apoiar.
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